quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Melhores de 2009

Melhor livro

1 - Witold Gombrowicz, Pornografia
2 - Ford Madox Ford, O bom soldado
3 - W.G. Sebald, Emigrantes
4 - Raymond Carver, Iniciantes
5 - Juan Benet, Você nunca chegará a nada
6 - Sergio Pitol, Vida Conjugal
7 - Enrique Vila-Matas, Suicídios exemplares
8 - Grégoire Bouillier, O convidado surpresa
9 - Bernardo Ajzemberg, Olhos secos
10 - Sérgio Rodrigues, Elza, a garota
11 - Mario Bellatin, Flores
12 - Michel Laub, O Gato por dentro
13 - Nick Hornby, Frenesi Polissilábico
14 - Bernardo Oliveira, O filho da mãe
15 - Claudio Miller, Geração Beat


Melhor disco internacional


1 - Camera Obscura, My Maudlin Career
2 - Pastels/Tenniscoats, Two Sunsets
3 - Air, Love 2
4 - The trash can sinatras, In the Music
5 - Boozoo Bajou, Grains
6 - Grizzly Bear, Veckatimest
7 - Deer Tick, Born on Flag day
8 - Sonic Youth, The Eternal
9 - Atlas Sound, Logos
10 - Richard Hawley, Truelove's Gutter
11 - M. Ward, Hold Time
12 - Edward Sharpe and The Magnetic Zeros, Up from below
13 - Bonnie 'Prince' Billy, Beware
14 - Bibio, Ambivalence Avenue
15 - Leonard Cohen, Live in London
16 - Tortoise, Beacons of Ancestorship
17 - Vallentin Silvestrov, Sacred Works
18 - Bob Dylan, Together Through Life
19 - JJ, Nº 2 (EP)
20 - Medeski, Martin & Wood, Radiolarians: The Evolutionary Set


Melhor disco nacional

1 - Céu, Vagarosa
2 - Mario Adnet & Phillipe Baden Powell, Afrosambajazz
3 - Itiberê Orquestra Família, Contrastes
4 - Nana Caymmi, Sem Poupar Coração
5 - Max Sette, O que se Passou
6 - Os Darma Lóvers, Simplesmente
7 - Bruno Morais, A Vontade Superstar
8 - Mariana Aydar, Peixes, Pássaros, Pessoas
9 - Luciana Souza, Tide
10 - Caetano Veloso, Zii e Zie
11 - + 2, Ímã
12 - Rômulo Fróes, No Chão sem o Chão
13 - Siba e Roberto Corrêa, Violas de Bronze
14 - André Mehmari & Gabriele Mirabassi, Miramari
15 - Arnaldo Antunes, Iê iê iê
16 - Guinga & Paulo Sergio Santos, Saudade do Cordão
17 - Rodrigo Campos, São Matheus não é um Lugar tão Longe Assim
18 - Heloísa Fernandes, Candeias
19 - Cidadão Instigado, Uhuu!
20 - Nelson Freire, Debussy


Melhor filme

1 - O casamento de Rachel,
Jonathan Demme
2 - A fronteira da alvorada, Philippe Garrel
3 - 500 dias com ela, Marc Webb
4 - Bastardos inglórios, Quentin Tarantino
6 - Caramelo, Nadine Labak
7 - Inimigos públicos, Michael Mann
8 - Amantes, James Gray
9 - Juventude, Domingos de Oliveira
10 - Simplesmente Feliz, Mike Leigh
11 - Apenas o fim, Matheus Souza
12 - Entre os muros da escola, Laurent Cantet
13 - Natimorto, Paulo Machline
14 - Lóki, Paulo Henrique Fontenelle
15 - Moscou, Eduardo Coutinho
16 - Alguém que me ame de verdade, Diane Crespo e Stefan C. Schaefer
17 - Abraços partidos, Pedro Almodóvar
18 -
O desinformante!, Steven Soderbergh
19 - A Janela, Carlos Sorín
20 - Valsa com bashir, Ari Folman


Melhor peça de teatro

1 - Mal entendido (Sesc Copacabana)
2 - Sonho de outono (Teatro Nelson Rodrigues)
3 - A última gravação de Krapp / Ato sem palavras (Sesc Ginástico)
4 - Regurgitofagia (Sesc Ginástico)
5 - A casa (Centro Cultural Justiça Federal)



Melhor show

1 - Radiohead (Apoteose)
2 - Kraftwerk (Apoteose)
3 - Mônica Salmaso (Espaço Cultural BNDES)
4 - Ná Ozzetti (Espaço Cultural BNDES)


Melhor exposição

1 - Parede (Centro Cultural Justiça Federal)
2 - Vik Muniz (Museu de Arte Moderna)
3 - Tazio Secchiaroli (Caixa Cultural)
4 - Rico Lins (Caixa Cultural)
5 - Virada Russa (CCBB)
6 - Rubem Grilo (Caixa Cultural)
7 - Myron Christian (Centro Cultural Justiça Federal)
8 - Chá no Saara (Caixa Cultural)
9 - Yves Saint Laurent (CCBB)
10 - Osmo Rauhala (Museu de Arte Moderna)


Melhor mostra

1 - Stan Brakhage (CCBB)
2 - David Lynch (Caixa Cultural)
3 - François Truffaut (Caixa Cultural)
4 - Chantal Akerman (CCBB)
5 - A pele da película (Caixa Cultural)





sábado, 23 de janeiro de 2010

'Cortez the killer'


Existe uma antiga querela, tão estéril quanto interessante, entre os melômanos. Divide os que dão preferência às apresentações ao vivo e aos que valorizam a audição do disco. Para mim, a questão é menos candente: pode-se dizer que foi o sucesso de Elvis Presley que inventou, ou ao menos consolidou, aquilo que hoje chamamos de industria fonográfica(será que ela ainda existe?). Logo, a própria ideia de uma música desprovida de base material me parece sem sentido. Os Beatles, afinal, continuaram os Beatles longe dos palcos.

No entanto, para os amantes da música clássica ou do jazz, herdeiros de uma tradição anterior ao rock e à industria fonográfica, a diferença essencial entre estar coletivamente na presença física da orquestra ou do combo e estar ouvindo a sua reprodução técnica no aconchego solitário do lar soa bem mais notável. A vulgarização desse momento mágico por automóveis e celulares acrescentou novas nuances ao problema do onde, do quando e do como ouvir Brahms ou Ellington.

Pois bem. Há exatos nove anos atrás, Neil young tomou partido dos que defendem o primado da musica ao vivo. Sua acachapante apresentação no Rock in Rio 3 justificou toda a expectativa dos fãs. Não preciso ter assistido aos outros para saber que foi o melhor show de toda a história do festival. Foi o melhor show da minha vida, superando até o Sonic Youth, em 2000, o Brian Wilson, em 2005, e o Radiohead no ano passado, soberbos.

E nada, nem os muitos discos ao vivo gravados por Young no decorrer da sua prolífica carreira, como "Weld", de 91, "Rust never sleeps" e "live lust", ambos de 79, ou mesmo "For way street", de 71, ainda dos tempos com Crosby, Stills & Nash, poderia ter-nos preparado para o que assistimos. Ao final das quase duas horas em que o canadense e o grupo Crazy Horse estiveram no palco com as vocalistas Astrid(irmã) e Pegi(mulher) Young, as pessoas se abraçavam, chorando de felicidade naquele descampado em Jacarepaguá.

Havia menos gente para ver Young do que para ver qualquer outra atração de fim de noite do festival, possivelmente um quarto da platéria dos Guns N'Roses ou um quinto da dos Red Hot Chili Peppers, por exemplo. Apesar de toda a sua bagagem, reconhecida até pelos punks e grunges, aquele senhor de 55 anos de idade não agradava ao grande público carioca. Seu público abarca quem, em todas as faixas etárias, está interessado na história do rock. Seu trabalho dilacerado entre o folk mais puro e a eletricidade mais cacofônica baliza tudo o que está no meio.

A prórpia frequência com que young registra seus shows em disco indica o quanto são importantes para ele mesmo e para seus fãs. Seu último registro ao vivo"Road rock - Friends & relatives" saiu na mesma época do show épico. Em comum, apenas a longa duração das versões digressivas, elétricas, cheias de microfonias. porém, até para quem já havia memorizado cada palhetada dos 18 minutos de "Cowgirl in the sand" ou os 11 minutos de "Words" o show de 2001 foi chocante.

Nunca o Brasil presenciou tamanha entrega de um artista estrangeiro. Cantando com ardor "Cinnamon girl", "Hey hey, my my" ou "Powderfinger", o cinquentão tomou a platéia como refém. O preço do resgate era uma entrega equivalente à sua, algo impossível de ser feito ou sequer concebido só com a audição de um MP3. Sua aura, sua presençã ali, diante de nossos olhos, em carne e osso, abriu um fosso entre ouvir Neil Young e assistir (a) Neil Young. Física e psicologicamente devastador.

"Like a hurricane" foi o melhor exemplo de seu método. A canção que o Roxy Music reinterpretara como um baladão podre de chique foi recuperada como... como... bem, como um furacão. Young executou-a com tal arrebatamento que uma das cordas de sua Les Paul se rompeu, ferindo-o. Mesmo sangrando, ele nem pestanejou. Pegou a corda arrebentada e começou a batê-la contra os captadores, transformando a guitarra noutro instrumento e "like a hurricane", numa melodia fantamasgórica e pungente.

Para mim, entretanto, o ponto alto foi "Cortez the killer". Com ela chorei e continuo chorando quando, como agora, escrevo escutando a versão em "Live rust". Consta que os astecas previram o fim do (seu) mundo para o equivalente ao nosso 1519, ano em que Hernán Cortez chegou ao México. Young narra esse apocalipse através de uma elipse e de solos tristíssimos de guitarra. Apresenta a civilização de Montezuma de maneira propositalmente idílica, inclusive justificando que "eles ofereciam vida em sacríficio/ Para que outras pudessem prosseguir". Insere uma estrofe lírica, falando de uma amor no passado. E afinal comenta: "Ele veio dançando através das águas/ Cortez, Cortez/ Que assassino." Ouvir isso no Rock in Rio foi uma catarse emocional, uma maneira de chorar por paixões e civilizações perdidas, pelo fim de um mundo melhor. (lembram do slogan?)

***

Aproveitando o gancho, o empresário, Roberto Medina, planeja para a primavera(e não para o verão, sábia decisão) uma nova edição do festival na cidade. Espero ver algo próximo de uma manada de cavalos loucos como em 2001.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Melhores da década

Discos Estrangeiros:

1 - Flaming Lips - Yoshimi Battles the Pink Robots
2 - Fleet Foxes - Fleet Foxes
3 - Jay Jay Johanson - Whiskey
4 - Belle and Sebastian - Fold Your Hands Child, You Walk Like a Peasant
5 - High Llamas - Can Cladders
6 - Radiohead - In Rainbows
7 - Clinic - Walking With Thee
8 - The Legends - Up Against the Legends
9 - Chemical Brothers - Surrender
10 - Thievery Corporation - The Cosmic Game


Discos Nacionais:

1 - Bebel Gilberto - Tanto tempo
2 - Marisa Monte - Infinito Particular
3 - Los Hermanos - Ventura
4 - Mônica Salmaso - Nem 1 Ai
5 - Siba - Toda vez que eu dou um passo, o mundo sai do lugar
6 - Moacir Santos - Choros & Alegria
7 - Fellini - Amanhã é Tarde
8 - Max de Castro - Samba Raro
9 - Adriana Calcanhoto - Maré
10 - Bid - Bambas e Biritas


Livros:

1 - J.M. Coetzee - Desonra
2 - W.G. Sebald - Austerlitz
3 - Alan Pauls - O passado
4 - Milton Hatoum - Dois Irmãos
5 - Amós Oz - Rimas da Vida e da Morte
6 - Cees Nooteboom - Paraíso Perdido
7 - Enrique Vila-Matas - A Viagem Vertical
8 - Javier Marías - Coração tão Branco
9 - David Grossman - Desvario
10 - Claudio Magris - O Senhor vai Entender


Filmes (Língua Inglesa) :

1 - Brilho eterno de uma mente sem lembranças (Michel Gondry)
2 - Encontros e desencontros (Sofia Coppola)
3 - Igual a tudo na vida (Woody Allen)
4 - A História real (David Lynch)
5 - Magnólia (Paul Thomas Anderson)
6 - Clube da luta (David Fincher)
7 - Match point (Woody Allen)
8 - Flores partidas (Jim Jarmusch)
9 - A lula e a baleia (Noah Bambach)
10 - Sideways (Alexander Payne)


Filmes Europeus / Latinos:

1 - Os sonhadores ( Bernardo Bertolucci)
2 - Fale com ela (Pedro Almodóvar)
3 - O fabuloso destino de Amélie Poulain (Jean-Pierre Jeunet)
4 - Segunda-feira ao sol (Fernando León Aranoa)
5 - O mesmo amor, a mesma chuva (Juan José Campanella)
6 - Medos privados em lugares públicos (Alain Resnais)
7 - Amantes constantes (Philipe Garrel)
8 - Uma garota dividida em dois (Claude Chabrol)
9 - Intimidade (Patrice Chéreau)
10 - A menina santa (Lucrecia Martel)


Filmes orientais:

1 - O voo do balão vermelho (Hou Hsiao-Hsien)
2 - Amor à flor da pele (Wong Kar-Wai)
3 - Time (Kim Ki-Duk)
4 - Dolls (Takeshi Kitano)
5 - Balzac e a costureirinha chinesa (Dai Sijie)
6 - 2046 (Wong Kar-Wai)
7 - As coisas simples da vida (Edward Yang)
8 - Mal dos trópicos (Apichatpong Weerasethakul)
9 - Casa vazia ( Kim Ki-Duk)
10 - Síndromes e um século (Apichatpong Weerasethakul)


Filmes nacionais:

1 - Cidade de Deus (Fernando Meirelles)
2 - Jogo de cena (Eduardo Coutinho)
3 - 1972 (José Emílio Rondeau)
4 - Separações (Domingos de Oliveira)
5 - O ano em que meus pais saíram de férias (Cao Hamburguer)
6 - O outro lado da rua (Marcos Bernstein)
7 - O Céu de Suely (Karim Ainouz)
8 - O Homem que copiava (Jorge Furtado)
9 - Chega de saudade (Laís Bodanzky)
10 - Cinemas, aspirinas e urubus (Marcelo Gomes)

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Yo no buscava nadie e te vi

Como vocês se chamavam antes de se juntarem?
Ele:
Desculpe, mas não podemos responder. Segredo de casal...
Ela: É que o antes deixou de contar para nós.
Ele: Exato. Decidimos apagar o passado, já que nossa existência se fez plena somente depois de nos ligarmos. Agora somos apenas Julia Eu e Tu.

Por que Julia e não um nome masculino?
Ele:
Ora, porque as mulheres sempre têm preferência. O senhor nunca ouviu falar em cavalheirismo?
Ela: Ele não é mesmo um gentleman?

Quando vocês se conheceram?
Ele:
Há três primaveras. Eu frequentava festas de casamento, sabe? Ali as moças solitárias se mostram mais vulneráveis...
Ela: Até me fisgar, ele se portava como um sedutor irresponsável. Um Dom Juan, imagine!
Ele: De fato. Eu era um autêntico heartbreaker. E não me incomodava de agir assim. Mas as coisas mudaram da água para o vinho mal a avistei em uma daquelas festas.
Ela: Eu estava distraída, muito distraída. Perto da meia-noite, saquei da minha bolsa minha cigarrilha francesa e...
Ele: ...prontamente acendi meu Zippo prateado.
Ela: Um isqueiro robusto que, numa fração de segundos, se colocou à minha frente, com uma labareda irrecusável.
Ele: E olha que nem fumo! Carregava o Zippo no paletó justamente para emergências do gênero.
Ela: Costumo dizer que nos completamos desde o primeiro instante. Eu com a cigarrilha francesa, ele com o Zippo prateado.

Vocês buscavam a alma gêmea ou tudo se deu por acaso?
Ele:
Não buscava conscientemente. Só compreendi que a procurava quando a encontrei.
Ela: Também não creio que buscasse. Estava distraída demais para pensar nisso. Gosto de acreditar que o acaso nos apadrinhou.
Ele: O acaso é o pai da felicidade, meu caro. E a expectativa, a mãe da decepção.

O que o atraiu nela?
Ele:
A distração, sem dúvida. Adoro mulheres distraídas. Uma dama distraída é uma dama desprotegida.

O que a atraiu nele?
Ela:
A elegância, a masculinidade germânica e, principalmente, o ar protetor.

Em que momento vocês se fundiram?
Ela:
Foi quando nos abraçamos, ainda naquela deliciosa festa de casamento.
Ele: Um único abraço, enquanto os músicos tocavam uma valsa...
Ela: ...e não nos separamos mais. Como nos folhetins.

Vocês tem saudade da época em que eram inteiros?
Ele:
Que pergunta estranha! Nós somos inteiros, senhor!
Ela: Um inteiro que se compões de duas metades. Não parece óbvio?

Vou indagar de outra maneira: depois que vocês se aglutinaram, o que ocorreu com os desejos de cada um? Sumiram? Modificaram-se?
Ele:
Não sumiram de jeito nenhum. Ela, inclusive, se esforça bastante para realizar os meus desejos.

Quais?
Ele:
Francamente! Pedir que um cavalheiro desnude intimidades de alcova em público...

Não me refiro a desejos sexuais.
Ele:
Ah, perdão. Na verdade, jamais examinei o assunto em detalhes. Permita-me consultá-la: "Querida, você acha que possuímos desejos individuais?".
Ela: Não sei... O meu olhar já se confundiu tanto com o seu...
Ele: O que existe são diferenças de comportamento.
Ela: Sim, algumas.

Por exemplo?
Ela:
Eu fumo, como mencionei no início da conversa.
Ele: Eu abomino cigarros.

E de que modo resolvem o impasse?
Ela:
Tento fumar longe dele.

Impossível, não?
Ela:
Nada é impossível para o amor.
Ele: Bingo! A danadinha sempre tira a frase da cartola quando se vê em apuros.
Ela: Eu também aprecio um bom drinque.
Ele: Eu bebo pouco. Mas não me importo de, às vezes, suprendê-la alegrinha. Admiro o senso de humor dela sob a inspiração do álcool.
Ela: Em contrapartida, dormimos e acordamos no mesmíssimo horário.
Ele: É incrível! Todas as manhãs, tão logo me espreguiço, lhe pergunto: "Acordou?"...
Ela: ...e eu: "Acabei de despertar".

Caso vocês se separem...
Ela:
Por favor, nem continue! Não suporto a ideia de nos separarmos. Se uma tragédia dessas acontecer, vou tomar muita champanhe de quinta. Litros e litros!
Ele: Os profissionais de imprensa deveriam poupar os leitores de ilações sensacionalistas...
Ela: Mas por que o senhor levantou a hipótese? Ele lhe confidenciou algo? O canalha planeja me abandonar?!?
Ele: Alto lá! Vamos encerrar imediatamente a entrevista! O senhor não percebe que está magoando a minha esposa?

Deixe-me apenas finalizar... qual a maior vantagem de dividir o mesmo corpo?
Ele e Ela: Nunca ficar só.

E a maior desvantagem:
Ele e Ela:
Nunca ficar só.

***

O semanário inglês NME (New Musical Express) divulgou na semana passada uma lista de cinquenta discos fundamentais da presente década. Esforcei-me e decidi escolher dez que não se pode morrer sem ouvir.

1 - Yankee Hotel Foxtrot - Wilco
2 - Poses - Rufus Wainwright
3 - Howl - Black Rebel Motorcycle Club
4 - Ventura - Los Hermanos
5 - Sea Change - Beck
6 - Oh You're So Silent Jens - Jens Lekman
7 - City Zen - Kevin Johansen
8 - Gulag Orkestar - Beirut
9 - For Emma, Forever Ago - Bon Iver
10 - Back To Black - Amy Winehouse

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Tango de los noventa minutos


"No me dejen afuera". É o que os 40 milhões de argentinos lêem na capa do tradicionalmente gaiato diário esportivo Olé, na manhã de hoje. Esses mesmos 40 milhões de corações estarão hoje as 19 horas, no horário de Buenos Aires, aglomerados diante de um aparelho televisor, que transmitirá a decisiva partida contra o Uruguai, que decidirá o futuro do futebol argentino. A partida é decisiva para a inclusão de argentinos e também uruguaios na copa da África do Sul, no ano vindouro. Independente do resultado da partida, esse foi o ano da Argentina no Thiago. Principalmente pela literatura portenha, terreno em que nós brasileiros perdemos de goleada para os vizinhos.

O melhor livro que li no ano é um clássico da literatura portenha, trata-se de "Sobre heróis e tumbas" do muito citado para vencer o nobel desse ano "Ernesto Sabato". A propriedade da condução de um romance é a marca de Sabato. Que nesse volume, cria quase que um mundo personal onde se desenrolam seus acontecimentos, sem fugir do fantastico na literatura, peculiaridade muito argentina, ele cria um tratado sobre a passionalidade dos portenhos diante da vida. Desde a simplicidade do esporte até as questões mais sensíveis como a liberdade humana. Será que um ato gratuito mostra que está livre dos grilhões da existência? Uma estória de amor de um jovem saudável e tolo por uma mulher doente e sofisticada, em todas as gamas que os adjetivos podem atingir, transforma-se em um painel da vida portenha no século XX. Sobre heróis e tumbas é o guernica pintado em azul e branco.

O último grande romance que li, também foi parido por um louco da bacia do Plata. Alan Pauls, com seu: "O passado"; agride, choca, enfia o dedo com sujeira em baixo da unha na ferida aberta. Com seus períodos longuíssimos não demonstra o mesmo talento em conduzir um romance(pelo menos não da maneira que mais me agrada), mas vence o leitor pela ousadia com que expõe as ignomínias que existe dentro de cada ser humano. O livro me ajudou a entender mais claramente que o passado deve ser enterrado sem muita reverência. Acho que saí um pouco mais duro da leitura. E acho que esse é um ponto fundamental de superioridade da literatura sobre as outras artes. O poder transformador. Uma canção pode mudar meu humor, uma pintura pode me ensimesmar, mas somente a leitura transforma. Eu não saí o mesmo dos grandes livros que li, eles auteraram algo na estrutura do meu DNA. E "O passado" teve esse poder, tornei-me uma pessoa diferente, ainda não posso dizer se para o bem ou para o mal. Não temam o passado e mergulhem de cabeça no romance de Alan Pauls. E assistam ao filme, somente depois da leitura, para dar risadas.

Já foi citado nesse espaço o sempre subestimado cancioneiro portenho, e destaco da safra 2009 dois grandes lançamentos dos hermanos. O primeiro é do grande violonista Federico Aubele, que chega com a sua peculiar elegancia ao terceiro álbum, onde marca presença mais constante nos vocais do que nos discos anteriores. "Amatoria" não é o melhor disco de Aubele, mas mostra o compositor transitando por um terreno mais próximo da música tradicional argentina, abrindo um sorriso de contentamento em Atahualpa Yupanki, onde quer que ele esteja. Destacaria também a banda, El Mató Un Policía Motorizado, que flerta com o famigerado post-rock, mas com uns toques criativos personalíssimos de seu passaporte argento. Eles lançaram três discos que formam uma espécie de trilogia sonora, altamente recomendável: Navidad de Reserva, Un Millón de Euros, e Dia de Los Mortos.

Talvez o impacto de duas tragédias em sequência, abale a auto-estima do cidadão argentino, pois podia-se notar o abalo que foi para os argentinos a perda da voz de Mercedes Sosa, que representava a resitância argentina em tempos menos tranquilos. Entretanto acho que o volume cultural que vem dos pampas cada vez se torna maior, em caso de derrota nos campos, acho que o argentino deveria pedir uma Quilmes gelada e gastar algumas horas a ler Alan Pauls em algum charmoso bar de Buenos Aires. E preciso confessar, apesar da apologia argentina, hoje visto azul celeste.

***

Poucos são os programas que me fazem ligar o aparelho televisor, e as reprises do genial sitcom Seinfeld é um desses. Uma possível volta foi ensaiada em um episódio da série "Curb you enthusiasm", que é escrita e protagonizada por um dos gênios por traz de Seinfeld: Larry David. Fica a minha torcida por novas estorietas sobre o nada.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Fado de dois lustros


Tenho uma forte lembrança da infância, de quando ia à casa da minha avó materna e era entupido com quitutes e música lusitana. Sempre foram duas das minhas paixões a gastronomia e a música. Posso sentir o gostinho dos pastéis de Santa Clara só em rememorar aquelas manhãs de domingo. Apesar de ser uma criança gulosa, o clímax dessas visitas era o aparelho de som muito arcaico que minha avó conservava, e ainda conserva, como objeto de decoração por contar com raras visitas do neto melômano. O antigo aparelho, era um móvel que tomava destacada posição na bem decorada sala de estar da antiga casa da vovó, os meus ouvidos sensíves se espantavam com o barulho que aquelas caixas de mogno podiam provocar. E havia uma estratégia para alcançar um som mais grave e potente: enfiava metade do meu pequeno corpo em um orifício no centro do "móvel" e de lá ouvia os clássicos e alguma música popular brasileira e também portuguesa.

Essa nostalgia toda não é fortuita, ou gratuita, o dia 6 de outubro traz de volta um pouco do menino que entrava no buraco do aparelho de som da avó. Há dez anos exatos morria a maior intérprete de além-mar, a voz que adorava ouvir seguro, dentro daquele buraco, onde no auge da minha infância podia me proteger de toda a sorte de desventuras e infortunios que vinham a reboque daquela bela voz, além do abrigo físico havia a inocência infantil. Para a criança, era até engraçado ouvir a maneira com que ela pronunciava as palavras conhecidas de uma maneira totalmente diversa do que meus pais, irmãos e amiguinhos falavam. Não entendia a tristeza do fado, que só depois de alguns anos viria me atingir.

E foi no dia 6 de outubro de 1999 que aos 16 anos, com os ouvidos já bastante detonados pelos Heavy-metals e Hardcores que escutava naqueles tempos recebi do meu pai a notícia da morte de Amália Rodrigues, foi o dia que entendi a tristeza plácida do Fado. Foi como se uma tia que fora muito próxima na infância, mas que depois houvesse se distanciado, morresse. Lembro da maneira que "Estranha forma de vida" ecoava na minha cabeça, e lembro também que chorei pela tia. Ouvir a voz de Amália é prestar tributo a beleza de ser lusófono, e sobretudo, um deleite maior que o dos pastéis de Santa Clara.

Para passar uma impressão menos triste nesse post, deixo uma indicação da nova(velha) música portuguesa, o jovem Antonio Zambujo, que faz releituras dos "standards" do fado e algumas novas composições com uma bela voz, vale a audição.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

To make a prairie


To make a prairie it takes a clover and one bee
One clover and a bee.
And revery
The revery alone will do,
If bees are few

(Emily Dickinson)