terça-feira, 29 de setembro de 2009

To make a prairie


To make a prairie it takes a clover and one bee
One clover and a bee.
And revery
The revery alone will do,
If bees are few

(Emily Dickinson)

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Bodas de prata


Impressiona-me a capacidade dos ídolos brasileiros, de qualquer campo, em emitir opiniões estúpidas. Pelé é quase incontestavelmente o maior jogador de futebol de todos os tempos e acumula a esse título, outro, o de campeão em declarações infelizes e equívocadas. Até mesmo um dos maiores compositores populares do país, insiste em exaltar uma ditadura que matou milhares e levou uma pequena ilha a total bancarrota, e ataca uma ditadura que teve dezenas de vítimas fatais e mandou para o degredo uns privilegiados que passaram férias forçadas em Londres, Santiago, Paris... Caetano Veloso disse em entrevista ao JB em 91 que morria de rir ao assistir Paris, Texas, pois se tratava de um filme ridículo. Sem dúvida é a pior das declarações já emitidas por um destacado nome da cultura nacional.

Certa vez ouvi ou li alguém dizer que os filmes de Win Wenders são como quadros, que deviam ser estudados diante do impacto visual que nos causam. As primeiras cenas de Paris, Texas realmente impressionam pela beleza e exatidão da fotografia de Rubby Müller, que com certeza deve ter recebido pitacos do diretor geral (ah, não entendo muito dessas coisas). O impacto da imensidão do deserto Mojave, do falcão solitário, como o homem magro que vaga por aqueles tons terrosos que parecem ter saído de uma tela de Paul Klee. Compreendo os que percebem essa beleza, também não fico imune. Mas o essencial do filme passa ao largo dessa estética rebuscada. Wenders conseguiu dar os mais belos movimentos ao roteiro de Sam Shepard, que conta a mais sensível e interessante estória sobre família com que já tive contato.

É desnecessário resenhar o enredo do filme, já muito conhecido que é, mas é impossível mencionar a película sem comentar as sutilezas dos diálogos entre pais e filho; A forma com que os atores encarnam os sentimentos dos personagens(nesse filme até eu consigo perceber as boas atuações); a beleza de Natassja Kijinski, jamais existirá mulher mais bela que Natassja Kijinski em Paris, Texas, sua primeira aparição dura poucos segundos: está de costas, com um profundo decote que deixas as mesmas quase totalmente desnudas e num átimo se vira e é revelada a mulher mais bela que existiu, naqueles (não mais de)cinco segundos capturados pelas sensíveis lentes de Wenders.

O filme conta com momentos tocantes a todo tempo, a cena em que pai biológico(Travis), filho(Hunter), pai e mãe adotivos(Walt e Anne) assistem juntos uma película em Super-8 é de fazer chorar o mais bruto dos homens; até mesmo com luz e sombra a obra de Wenders pode te tocar; um rápido diálogo entre Hunter e Travis sobre paternidade e morte é emocionante: Travis mostra um álbum com fotos antigas ao seu filho Hunter, dentre elas uma foto do pai de Travis e então tem início o diálogo de um homem atormentado com uma criança de 8 anos.

Hunter: Onde ele está agora? (sobre seu avô, pai de Travis)
Travis: Ele está morto, morreu alguns anos depois de tirar essa foto.
Hunter: Oh, ele está morto...
Travis: Ahãnn...
Hunter: Como você sente que ele está morto?
Travis: Como assim?
Hunter: Não lembra dele caminhando por aí e falando?
Travis: Lembro.
Hunter: Então como pode achar que ele está morto?
Travis: É, mas sei que ele morreu.
Hunter: Eu nunca senti que tinha morrido, pois lembrava de você caminhando por aí e falando...

Reduzido a um diálogo aqui, pode não significar nada, mas dentro daquele filme, dito por um filho que reencontra o pai depois de passar metade de sua vida sem vê-lo, é demasiado tocante. Há ainda o retrato de uma relação amorosa destroçada pelo ciúme, um homem que amava demais, que enlouquece e vaga sem lembrar de filhos, trabalho...
Paris, Texas é a estória cotidiana, de uma família comum, mas contada de uma maneira brilhante e sensível pelas lentes de Wenders e a emoção do seu elenco.

Esse ano o Road Movie completa 25 anos e jamais me parecerá anacrônico, tanto pelo seu tema atemporal quanto pela beleza de imagem e som (precisaria de um post exclusivo para falar sobre a trilha sonora de Ry Cooder). Nunca uma palma de ouro foi tão bem entregue. É sem dúvida o filme da minha vida. Caetano ri e eu choro.


***

Não há como deixar sem comentários a vitória incrivel de Juan Martín Del Potro sobre Roger Federer. Valeu a pena ficar acordado ate muito tarde, e passar 4 horas em frente ao televisor, para ver o triunfo do jogo vibrante e exuberante do argentino sobre a exatidão técnica e chata do Suíço. O barulho da torcida e poderosos golpes de direita (que até me lembraram de Guga nos melhores dias) levaram o promissor tenista argentino ao seu primeiro título de expressão.