quarta-feira, 24 de junho de 2009

Billie Holiday encontra Rimbaud


Precious Little

"All the gold and silver
can measure up my love for you

its so material


precious little you given me

precious little you got to say

precious time is what you've taken
wish I could find you again


what can it get me to stand by you

precious little I got to show for it
me as the faucet you as the drain

precious little I got to know for it


I gave you a wristwatch you
wouldn't even give me the time of day

you gave me a memory a memory

is what you are to me

times passing I got no time
to look back and you know it

but I got to cause you're there

and I'm here so blue

and gold and silver

but I got to and I do

I laugh til I'm sick

til I vomit til I spit
till I piss til I shit

till I puke up everything

I got which is


Precious little is what you are to me

precious little is what you are

I don't think of you much
I got little to say still

I wish I could find you and give

you my precious little

all the gold and silver".




( Patti Smith, Witt)

terça-feira, 23 de junho de 2009

A viagem dos arcanjos


No belíssimo e singelo filme Le Voyage du Ballon Rouge, o diretor chinês Hou Hsiao-Hsien preocupa-se em evidenciar e proporcionar maiores tonalidades aos rastros: um misterioso balão vermelho acompanha o menino Simon, por Paris. Sutil e delicado, funciona perfeitamente como um inefável anjo protetor.
Foi exatamente com a mesma inteligência celestial, que Cees Nooteboom escreveu o "Paraíso perdido".

Através de labirintos e caminhos metalinguísticos, o genial holandês intensifica a projeção para os laços. Afinal, se "coincidência foi a palavra escolhida por Deus para não assinar embaixo", segundo Baby Consuelo, outrora em uma entrevista, neste livro (traduzido por Cristiano Zwiesele, lançado pela Companhia das Letras), o acaso proporciona o encontro entre os viajantes. Aqui, é digno enfatizar a ambiguidade do termo.

Alma, uma sensível jovem brasileira é vítima de estupro, em São Paulo. Afim de abstrair o trauma, viaja para Austrália com Almut, que mesmo bastante diferente quanto aos objetivos e olhar para a vida, é a sua melhor amiga.
Enquanto Alma apresenta inclinações para o olhar interior e a espiritualidade, Almut está preocupada apenas em se divertir. Por exemplo, ao comentar sobre uma obra de Bottticelli, Alma divaga:

"O efeito mágico do original me deixa atarantada de uma maneira que eu não saberia descrever".
Logo após mencionar outra comparação, Almut - irônica - utiliza a expressão "Histeria silenciosa".

Paralelo, está Erik Zondag, que apresenta problemas com o álcool; até que segue rumo aos Alpes austríacos, para cuidar da saúde. Durante o período de tratamento rigoroso, o crítico literário - entregue ao acaso -, também está acompanhado.

Isso, mesmo sem saber ao certo "em que disposição de espírito se encontrava quando embarcou no trem com destino à Áustria (...); sabia apenas que estava indo submeter-se ao tratamento que seu amigo Arnold Pessers lhe havia recomendado".

Nesta obra, pessoas e acontecimentos podem ser - aparentemente - distintos, mas ao mesmo tempo é estabelecida a confluência. Alma e Erik apresentam experiências de vida muito semelhantes: ambos passam por atribulações e realmente é necessário um amparo angelical - até, no sentido metafórico.

Fino e intenso, Cees Nooteboom habilidosamente - modela o onírico. De forma doce, muito preciso, faz soar pela trombeta literária, as diversas sintonias deixadas pela aura. No tempo e espaço.

sábado, 13 de junho de 2009

La science des reves


Assim como Holden Caulfield, - sinto-me um rebelde em poder ter alguma coisa em comum com ele - não gosto de cinema. Ao menos sei avaliar as interpretações, não sei distinguir um ator genial de um bom ator (acho até que tal distinção não existe). Mas obviamente sei quando está em cena um mau ator, pois um mau ator pode estragar qualquer bom texto. Sou incapaz de me encantar pela técnica de qualquer cineasta que seja, embora já tenha sido profundamente tocado por alguns filmes. Quando digo não gostar de cinema, é na realidade, não colocar a arte (ou seria ciência?) cinematográfica no mesmo patamar da música ou da literatura. Até porque o cinema tem que comer muito feijão com arroz para chegar lá, até mesmo cronologicamente.

Como na estória dos milionários californianos que chamaram os maiores especialistas em vinho da França, para projetarem as vinícolas californianas à imagem e semelhança das melhores vinícolas francesas. Os especialistas assim fizeram, então um dos endinheirados da Califórnia questionou: temos vinhos tão bons quanto os franceses? E o francês retrucou: É, só precisa esperar uns 200 anos. (Há um bocado de retórica nessa estorieta, ok, amantes dos vinhos?).

Em uma avaliação pessoal, estão no mesmo grau de importância o cinema e o futebol. (que claramente é um esporte, embora exista inegavelmente um tanto de arte) Durante algum tempo consigo vencer a preguiça e vou muito ao cinema, os títulos parecem me interessar e estou sempre no escuro das salas cariocas, mas é sazonal, não consigo vencer sempre a preguiça, ainda que nos jornais me depare com filmes que despertem meu interesse.

Não lembro a última vez que fui ao cinema, mas o último filme assisti há poucas horas, e me deixou realmente feliz, como as canções de Yelle. La science des reves, é um filme de Michel Gondry, de 2006, o que me faz sentir arrependimento por ser preguiçoso e não ter assistido antes. Trata-se de uma divertidíssima estória, cujo centro é Stéphane Miroux (Gael Garcia Bernal) um desenhista mexicano, de mãe francesa, a quem vai visitar após a morte do pai. Stéphane sempre confundiu a vida real com os sonhos, ou sempre achou mais fácil aceitar os sonhos em vez de se deparar com a realidade. Apaixona-se pela vizinha Stéphanie (Charlotte Gainsbourg, esbanjando charme) mas tem muita dificuldade em assumir verdadeiramente a paixão, então usa de estratagemas oníricos para conseguir tomar coragem e aproximar-se de Stéphanie.

Consegue um emprego enfadonho, com colegas bizarros, que também só consegue encarar se enchendo de uma carga extra de sonhos que invadem a realidade. O filme é cheio de momentos hilários, onde o gênio de Gondry se faz presente. A óbvia atmosfera videoclipica do filme dá o tom dos sonhos e devaneios de Stephanie. Diálogos cheios de provocação e obscenidades também dão um coloração menos ingênua ao mundo de fantasias gondryano. A variação entre 3 idiomas cria uma sensação de estranheza ainda maior à falta de linearidade da película. Evitaria qualquer comparação à Eternal sunshine of spotless mind, mas inevitável que é... não acho que seja uma produção superior, mas um Eternal sunshine com leveza, como a dos pedaços de algodão que se mantém suspensos se tocarmos o acorde certo.

Se os leitores cinéfilos (ou não) dão crédito à alguém que diz não gostar de cinema, fica a dica, de pouco mais de uma hora e meia de diversão e beleza. E ah, hoje vou apoiar o Fogão, rumo a primeira vitória no campeonato.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Os labirintos de Faulkner

Grandioso, William Faulkner - uma das inspirações para a criação desse blog, diga-se - é um dos mais geniais romancistas do mundo (afirmação esta, sem qualquer pudor e/ou receio de hipérboles). Enquanto agonizo (A L&PM lançou este ano uma edição, pela coleção de pockets) possivelmente seja a obra com maior potencial renovador na carreira deste escritor americano.

Apropriando-se da técnica do relato, o livro publicado na década de 30 é rico em metáforas e labirintos oníricos; o leitor pode em várias circunstâncias ter a sensação de desencontro, mas logo situa-se através de rastros - embora um tanto subjetivos - e referências imagéticas no decorrer da leitura. Tudo chega a parecer intangível, mas é (sensorialmente) possível "localizar-se" nos retalhos literários de Faulkner.

O fluxo psicológico envolve a humilde família Bundren, cuja missão é realizar o último desejo de Addie, a matriarca que sempre quis ser enterrada na cidade de Jefferson.
Comovido pela simplicidade deste sonho, Anse - o marido - prometeu ser fiel ao sonho da esposa. Repleta de questionamentos filosóficos, assim inicia a saga dos camponeses - rudes e sofridos.

Em capítulos bem curtos - teatralmente - aos poucos cada personagem se revela: pela forma de falar, como reagem aos acontecimentos, exacerbam seus conflitos. Através de enigmas, projetam um mosaico de sensações. Cada relato é a chave para uma nova atmosfera, onde a noção temporal é ambígua e repleta de signos.

Assim, Enquanto agonizo - através dos devaneios - questiona e reformula os conceitos que norteiam os meandros da denominada 'verdade' e como diria o próprio mestre:

" Ninguém procura ser obscuro só pelo prazer de sê-lo. Mas em certos momentos, o escritor é simplesmente incapaz de encontrar um meio mais eficaz de contar a história que busca contar".


quarta-feira, 3 de junho de 2009

Tu es joli


Imagine uma amálgama entre Jane Birkin, Peaches e Natasha Kijinski em Paris, Texas. O resultado só pode ser um: Yelle. O nome que na realidade é um acrônimo para You enjoy life. E Yelle é como um mito, seu nome representa o que é: A sensação da alegria de viver, a mais perfeita tradução da super usada expressão francesa: Joie de vivre. O equivalente sonoro de Amélie Poulain. Não me importo se os que estão à minha volta digam que é lixo, sei que Yelle e sua música não mudarão o mundo; mas deixam minha jornada de trabalho mais divertida, dão uma disposição extra para correr mais alguns quilômetros, fazem com que me sinta bem. E o que mais posso querer de canções? Tá bom, muito mais coisas.

Mas a jovem Julie Budet me faz sorrir, além de povoar alguns dos meus devaneios com a sua beleza sem par (Que olhos!). A música pop está aí para isso, para nos alegrar, deixar nossos dias menos cinzentos, e nada é cinzento em Yelle, seu videoclips são de um colorido provocante. E músicas com títulos de frases criadas por crianças do Pré, se transformam em canções muito bem arranjadas e bonitas, que eu escuto umas 15 vezes por dia, caso de: Tu es beau (Você é bonito). É claro que daqui alguns dias eu já estarei farto da canção, e passarei um longo tempo sem ouvi-la, pois é uma canção pop bobinha, você esgota-a, suga tudo o que pode dela e de lá não sairá mais nada. Mas eu também já suguei tudo de Blue Train.

Julie Budet não é tão inocente quanto o título da bela canção supracitada pode sugerir, a letra de Je veux te voir, canção que alavancou o sucesso de Yelle no Myspace, traz versos que enrubesceriam Calígula. Há também um bocado de feminismo espalhado pelo álbum Pop-up, o que não tira do disco um frescor muito desejável. Fica então, a vontade de se acabar numa pista de dança ao som de Je veux te voir.

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O que Jens Lekman tem contra o Rio?